Seu Lunga completou 83 anos junto com a sua terra natal que chega aos 134 anos
Comerciante é citado sempre em piadas de comediantes do Brasil.
Quem pensa que Joaquim dos Santos Rodrigues, o Seu Lunga, nasceu em Juazeiro do Norte está enganado. Ele completou na última quarta-feira (18), 83 anos de idade e é filho natural do município de Caririaçú, que, coincidentemente, também está aniversariando quando atinge 134 anos de emancipação política. Na época em que Seu Lunga nasceu, sua terra natal tinha acabado de festejar o cinqüentenário. Outro engano é daqueles que pensam tratar-se de um homem zangado.
Pelo contrário, é um comerciante sereno mesmo diante dos assédios constantes em sua sucataria por conta da fama que o tornou uma figura folclórica de Juazeiro e bastante conhecido pelo Brasil afora. Recentemente, a reportagem do Site Miséria foi com Seu Lunga até a Colina do Horto. Ele já conhecia o Museu Vivo de Padre Cícero, mas não tinha visto ainda o processo de revitalização com a construção dos boxes sob a estátua de Padre Cícero.
Na sua família, são pouquíssimos que o chamam de Joaquim. O apelido veio muito cedo e é derivado de Calunga, que lhe foi dado por uma vizinha. Nasceu em Caririaçu no dia 18 de agosto de 1927 e ficou conhecido pelo seu suposto temperamento forte. "Quem conversa com ele, passa a enxergá-lo c omo um homem inteligente de raciocínio rápido e lógico", atesta a universitária Lívia Gonçalves, que acompanhou a reportagem do Miséria até o Horto na companhia de Seu Lunga.
Ele teve sete irmãos e viveu sua infância "no meio dos matos" como diz lembrando ter se criado no município de Assaré e só chegou ao Juazeiro com 20 anos, em 1947, quando a cidade tinha apenas 37 anos de emancipação política e o Padre Cícero já havia morrido há 13 anos. Seu Lunga começou a trabalhar na roça aos oito anos e admirava a criação rígida de seu pai. "Sempre fui um filho obediente e passei isso para os meus filhos", explicou.
Em Juazeiro, foi ourives por dois anos, beneficiou arroz, torrou café, fez massa de milho e, depois, passou a comercializar no mercado público e a trabalhar no comércio com sua loja de sucata. Casou-se em 1951 e teve 14 filhos, que, apesar da pouca instrução, conseguiu dar pelo menos a educação básica. Na entrevista concedida ao repórter Normando Sóracles, fez algumas revelações: votou em Santana para prefeito e Agnaldo Carlos para vereador. Falou ainda que não gosta de festas, bebidas e jogos.
A única vez que assistiu a uma partida de futebol se decepcionou. Foi entre Juazeiro e Crato algumas semanas após ter chegado à terra de Padre Cícero. "Só deu pancadaria. O campo tava em obras e houve uma chuva de concreto e banda de tijolo. Nunca esqueci àquela cachorrada", resumiu. Se fui namorador? "casei com 22 anos", nega. Seu Lunga se apresenta como um homem católico e devoto de Padre Cícero o qual espera ver reabilitado antes de morrer. "Era um homem de visão e tinha poder. Muitos tinham era inveja da sua inteligência", diz se referindo ao sacerdote.
POETA E PANEGIRISTA
Ainda sobre política, diz que admira o presidente Lula e que teme pela vida do presidente do Estados Unidos, Barack Obama. "Já mataram dois presidentes por lá", recorda. No âmbito municipal não esconde a admiração pelo ex-prefeito e ex-deputado, Humberto Bezerra. "Todo mês ele dizia o que tinha recebido com o que tinha gastado e o que tava pensando em fazer", relembra acrescentando que iam pedir um menor preço no IPTU e ele negava dizendo que não podia.
Seu Lunga fez severas críticas ao poder judiciário afirmando que a polícia prende e o "caba ruim" tá solto no outro dia. Ele se diz um homem sério. "Nunca ri e nem gosto de show de humor", acrescenta. O que o comerciante gosta mesmo é de poesia e ensaia uma estrofe: "Se conhece o bom guerreiro/Quando luta e é feroz/O homem pela conversa/E o cantador pela voz". Seu Lunga diz não temer a morte e jamais se arrependeu do que fez.
Sobre suas respostas ríspidas, ele responde com perguntas: "Como pode haver um desconto de 70%?". "Prá que esse negócio de R$ 19,99 e porque não bota logo R$ 20,00?". Seu Lunga diz que tem um preço só desde 1950 e quando a pessoa reclama que está caro, faz questão de informar onde pode encontrar mais barato, porém não baixa seu preço. Ele julga estranho quando alguém chega e pergunta se mercadoria tal é para vender. "O único lugar onde se encontra coisa exposta que não é prá vender é no museu", argumenta.
Quando é indagado sobre a união de pessoas do mesmo sexo, Seu Lunga analisa não ser coisa de Deus e acha que faz parte da evolução do mundo. Para quem não sabe ele é panegirista, mas costuma discursar apenas por ocasião do sepultamento de parentes. Perguntado sobre quem gostaria que fizesse o seu panegírico, Seu Lunga respondeu: "Qualquer um. Ainda não pensei nisso", concluiu.
Demontier tenório
Leia mais notícias no www.showdiario.com.br, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário