Bracelete que promete equilíbrio e flexibilidade vira moda, mesmo sem ter qualquer respaldo …
O bracelete virou moda, inclusive entre gente com dinheiro para usar o Rolex ou o Patek que quiser no braço.
De longe, até parece um reloginho. Ou uma nova versão das batidas pulseiras da fundação Lance Armstrong. Mas o bracelete que anda no pulso de atores e esportistas tem outros propósitos: é vendido como uma fonte de equilíbrio, flexibilidade e força, supostamente capaz de interagir com o fluxo energético do corpo. Sem endosso de pesquisas acadêmicas em publicações sérias, o acessório é visto como um simples amuleto por cientistas e entrou na mira até da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no mês passado. Mas não dá para negar: o bracelete virou moda, inclusive entre gente com dinheiro para usar o Rolex ou o Patek que quiser no braço.
O jogador inglês David Beckham chega a andar com duas “pulseiras do equilíbrio” de cada lado. Os atores Leonardo DiCaprio e Robert De Niro já foram flagrados por paparazzi com as suas. Já a equipe de futebol do $aderiu em massa. Coincidência (ou não?), o time assumiu a liderança do Campeonato Brasileiro e não tem deixado a pulseira no banco. O ginasta Diego Hypólito também atribui seu bom desempenho atual, em parte, ao bracelete.
– Achava que era apenas marketing, mas comecei a usar a pulseira no início do ano, e meu treinamento ficou mais regular. Ganhei equilíbrio, inclusive emocional – diz o atleta, que vem arrebatando medalhas nas etapas do Mundial de Ginástica.
Primeiro de uma série de marcas que surgiram no mercado, o bracelete Power Balance foi lançado em 2007, na Califórnia. Logo caiu no gosto de surfistas e skatistas. Segundo a empresa, um par de hologramas (produzido na Califórnia) contido nas fitas de silicone (“made in China”) funciona como um sintonizador de frequências eletromagnéticas do organismo. A melhor performance viria dessa estabilização da energia.Shaquille O’Neal, garoto propaganda
Atualmente, o mais conhecido garoto propaganda da Power Balance é o jogador de basquete americano Shaquille O’Neal. Ele diz que raramente dá seu testemunho em favor de produtos, mas ficou impressionado depois de usar o bracelete pela primeira vez: ganhou o jogo com 57 pontos de vantagem. Muita gente, porém, já aderiu à concorrente EFX, no Brasil há um ano. A marca já vende 15 mil pulseiras no país por mês – cinco vezes mais que em janeiro. O preço não é lá uma pechincha: em lojas de surfwear, academias e na internet paga-se pela tirinha entre R$ 100 e R$ 150.
Diretor da EFX por aqui, o pernambucano Maurício Campelo, engenheiro e surfista de 51 anos, atribui o sucesso de seu produto à física quântica.
– A pulseira não é remédio, nem cura nada. Apenas atua em nosso campo eletromagnético e funciona como uma espécie de bateria. Só se sente o bem-estar quando ela está em uso. Ao tirá-la, o efeito passa – diz Campelo, que aposta num potencial de cem mil pulseiras vendidas ao mês, tendo como alvo, principalmente, a terceira idade. – O produto é um sucesso nessa faixa etária, que sente a diferença mais rápido.
Para mostrar sua eficácia, os distribuidores das pulseiras costumam aplicar testes nos potenciais consumidores. Num deles, o participante se equilibra numa só perna (naquela pose do “faz o quatro”), com os dois braços abertos lateralmente. O instrutor, em seguida, empurra para baixo um dos braços da cobaia, levando-a a tombar. Depois, repete-se o ritual com o bracelete. A sensação é de que a resistência à queda aumenta. Um efeito psicológico, segundo cientistas e médicos de todo o mundo, que dizem não ver sentido na interação entre o tal holograma e o fluxo de energia do corpo.
– O termo quântico é hoje usado para vender livros, filmes e acessórios, principalmente no contexto “espiritual”. É preciso descrever as bases científicas, fisiológicas e médicas desse dispositivo – diz o físico João Pacheco de Melo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Um grupo que se denomina Céticos Australianos, que regularmente questiona bases científicas de novidades que invadem o mercado de tempos em tempos, chegou a postar um vídeo na internet para mostrar que os tais testes podem ter efeitos diferentes simplesmente pela direção em que a força é aplicada ao corpo. A última a entrar em campo foi a Anvisa, que deve suspender no país a publicidade da Power Balance e de suas similares, inclusive uma versão genérica brasileira, a Life Extreme – que ficou conhecida no mercado como “pulseira bioquântica”.
Os benefícios não são unanimidade, inclusive entre quem comprou a pulseirinha. A apresentadora Astrid Fontenelle, que adotou o bracelete depois de uma viagem a Salvador, não sentiu as mudanças.
– Sinceramente, não estou mais equilibrada. Mas fui deixando no braço. Sabe aquela fita do Senhor do Bonfim que não arrebenta por nada? Virou a mesma coisa para mim.
Fonte: O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/bracelete-que-promete-equilibrio-flexibilidade-vira-moda-mesmo-sem-ter-qualquer-respaldo-2956368
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