Deputado do partido de Bolsonaro assume ser homossexual e defende porte de arma contra homofobia
Na quarta-feira, o deputado disse que tiraria “a tapa” uma mulher transexual que estivesse no mesmo banheiro que sua mãe
Dois dias depois de rebater críticas a um projeto de lei do deputado estadual Altair Moraes (PRB-SP) – que estabelece o “sexo biológico” como único critério para definir o gênero de atletas em competições em São Paulo -, utilizando-se de argumentos transfóbicos, o parlamentar Douglas Garcia (PSL-SP) assumiu hoje sua homossexualidade no plenário da Assembleia Legislativa do estado.
“Como uma questão particular minha, eu nunca quis trazer isso a público, nunca quis fazer disso uma bandeira política. Eu acredito que há males que vêm para o bem, a minha família já está ciente, meus amigos mais próximos já sabiam, fico extremamente feliz com isso, porém eu ficaria o resto da minha vida resolvido, eu sou uma pessoa resolvida e extremamente feliz”, afirmou Garcia durante a sessão de hoje.
“Como estão chegando essas ameaças, e como eu sei que muito em breve pode ser que exploda alguma coisa na internet, resolvi me adiantar”, afirmou Douglas. Antes de seu discurso, a deputada Janaina Paschoal (PSL-SP) disse que o parlamentar recebeu ameaças durante essa semana por conta da discussão que travou com Erica Malunguinho (PSOL-SP), primeira deputada transexual da história da Alesp.
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PRECONCEITO
Na quarta-feira (4), o deputado do PSL disse que tiraria “a tapa” uma mulher transexual que estivesse no mesmo banheiro que sua mãe ou irmã. “Se acaso dentro do banheiro de uma mulher que a minha irmã ou a minha mãe estiver utilizando um homem que se sente mulher […] entrar no banheiro eu não estou nem aí, eu vou tirar primeiro no tapa e depois chamo a polícia”, disse.
Segundo Janaina, Douglas requisitou que ela fizesse a comunicação à Casa pois ele estava “muito abalado”. “Hoje, depois de 25 anos, ele conseguiu conversar com os pais dele e dizer para os pais dele que ele é homossexual”, disse Janaina com a voz embargada. “Ele decidiu e eu estou só fazendo essa comunicação pública para que eventualmente não venha alguém com o intuito de constrange-lo”, afirmou a deputada.
A deputada ainda argumentou que o fato de Douglas ser homossexual não elimina a possibilidade de ele de fazer críticas ao projeto. “Ele tem as posições dele, ele está crescendo, amadurecendo, representante da juventude e está consciente que precisa se manifestar de uma maneira mais urbana em relação às suas ideias.”
FACILITAÇÃO DO PORTE DE ARMA
Mais tarde, Douglas afirmou nas suas redes sociais que sua primeira pauta contra a homofobia será requisitar ao presidente Jair Bolsonaro, também do PSL, a facilitação do porte de armas de fogo. “Como meu primeiro tweet, agora que todo mundo sabe que eu sou gay, minha primeira medida contra a homofobia é pedir ao nosso presidente Jair Bolsonaro facilitar o porte de armas de fogo”, escreveu o parlamentar.
“DISCURSOS MATAM VIDAS”
A fala de Douglas contra as mulheres transexuais veio após a deputada Erica Malunguinho criticar o projeto de lei que quer impedir atletas homens e mulheres de atuarem dentro dos gêneros com os quais se identificam.
Logo após as palavras do deputado do PSL, a própria Janaina Paschoal repreendeu o correligionário e se solidarizou com Malunguinho. “A gente pode defender as ideias de uma maneira mais cautelosa, de uma forma mais cortês. Nós assumimos o compromisso, como bancada, de conversar com o colega”, disse Janaina.
Depois de algum tempo, Douglas Garcia pediu a palavra e se retratou. “Eu gostaria de pedir desculpas caso as palavras que eu tenha proferido hoje tenham ofendido alguém”, afirmou.
INCITAÇÃO AO ÓDIO
Após o pedido de retratação de Douglas, Malunguinho acusou o deputado de “incitação ao ódio” e pediu que ele fosse investigado por quebra de decoro parlamentar.
“Discursos como o que você proferiu nesse plenário matam vidas todos os dias. Você legitimou as práticas de violência que acontecem constantemente em relação à comunidade LGBT”, disse ao deputado. “Desculpas não apagam o sentimento e a construção dos seus valores, que eu sei que estão nesse lugar.
Nascida em Pernambuco e vivendo em São Paulo há cerca de 16 anos, Erica tem 37 anos e foi eleita com 55.223 votos. A deputada se apresenta como militante das causas do “povo preto, indígena, lgbtqia+ e periférico”, que “foram historicamente apagados das narrativas de cidadania”.
Já Douglas tem 25 anos e está em seu primeiro mandato. Ele é cofundador do movimento Direita São Paulo, que “luta pelos dos valores conservadores: família, pátria, liberdade econômica e respeito às Forças Armadas”, e morador da favela de Americanópolis, zona sul da capital.
Fonte: Alex Tajra - https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/04/05/apos-fala-transfobica-deputado-estadual-do-psl-assume-ser-homossexual.htm
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